Começa um novo ano letivo. Se não da forma como o esperávamos, amanhece pelo menos em luta pela educação no Paraná.
Alguns de nós, por outro lado, começam a deixar (pelo menos formalmente) esse lugar.
Muitos de nós concluíram a graduação. Não daremos, é claro, adeus. Continuaremos participando. Porém, não mais como alunos da universidade. Mas, agora egressos, estaremos presentes de outra forma, em outra medida, nos limites em que pudermos contribuir com todas lutas que permanecem em processo.
Foi na colação de grau de uma das turmas do Curso de Direito que alguns de nós puderam vocalizar alguns sentimentos formados e amadurecidos junto ao Lutas. Alguns participantes do nosso grupo ficaram encarregados de fazer um discurso em homenagem a professores e funcionários. Éramos nós três: Guilherme, Gabriel, Rodolfo.
Nossos agradecimentos vão também a esse grupo, sem dúvidas o berço maior de toda a transformação pela qual pudemos passar durante o curso.
Segue, como registro, o vídeo e o texto integral de nossa homenagem:
Boa noite mães, pais, maridos, esposas, demais familiares e demais presentes.Professora Luciana.A turma de formandos João Pedro Junior agradece a sua presença esta noite, hoje como nossa paraninfa e representante do corpo docente do Curso de Direito da Universidade Estadual de Londrina. Você foi escolhida para estar aqui, como homenageada, pelo carinho e afinidade que a nossa turma sente por você. Aliás, hoje a comemoração não é apenas dos formandos. Lá no Moringão, passamos a saber que dia 20 de fevereiro, hoje, seria também o seu aniversário. Gostaríamos de lhe desejar, portanto, que esse seja em sua vida um ano cheio de conquistas e felicidades. E também, sem falsa modéstia, que você encontre pela frente uma turma tão boa como a nossa.Vera. Verinha.Hoje você está aqui representando todos os funcionários da UEL, cujo trabalho diário, o esforço, a paciência e a seriedade permitiram a esta turma concluir o Curso de Direito. É uma grande alegria pessoal, de todos nós, que você esteja aqui esta noite, fazendo parte dessa festa, e trazendo para ela esse seu sorriso, que tornava mais belas todas as manhãs de estágio no EAAJ.Caras homenageadas.Não é tarefa fácil nem simples prestar homenagem a vocês. De fato, eu acho que não conseguiria fazer isso sozinho.Foi por isso que, algum dia desses, em conversa de bar, eu pedi a ajuda desses amigos. Contudo, eles me impuseram uma pequena condição.Fugiríamos do discurso chato, cansado, enfadonhoVamos fantasiar essa homenagemAdorná-la, embebedá-laFalar por imagens e sonhosPois a prosa é traiçoeira, cansa, enfastiaA trocaríamos por esse algo diferentePlural, simples e com rimaAlguns versos declamadosHomenageando as homenageadasA declamação de uma derradeira poesiaComeçaríamos citando BelchiorQue dizia algo sobre o passadoSeria ele como um antigo vestuário, comido, apertadoAssim a graduaçãoQue há tão pouco começaraVai ficando para trásJá se faz passadoVelha roupa colorida, apertada, antiquadaQue não nos serve maisAliás,Ninguém hoje é o mesmoDe cinco ou seis anos atrásDaqui, saímos formadosA formatura em que nos formamosSobretudo encerraEm uma singular passagem,Uma fresta, uma festaUm processo do qual saímos transformadosDe fato.Não há um de nósQue não tenha sido transformadoEis, meus caros,Logo ali sentadosOs principais culpadosProfessores e funcionários.Acusamos vocês, caras homenageadas,Nesse juízo, definitivamente culpadasEstiveram conoscoDurante toda caminhadaE agora vejam bemEm baixo dessa becaEscondemos nossas asasSeguindo o rito esperadoNão poupamos nossas becas.Essa roupa que vestimosTão bela, marca o fim de toda a esperaO carnaval nem direito se encerrouAinda de ressaca d’outro diaPermanecemos vestindo fantasiaFantasiando agora quem sabeUm tradicional retrato com a famíliaMas me desculpemDemais presentesEsse troço, demasiado quente,Poderia logo ser tiradoSe já não é quase automático,Faz-se já desnecessárioNão nos alegra enxergar no espelhoNossos corpos em um mero traje pretoMas sim ver em nossa frenteO rosto amado de cada presentePor outro lado,Pensemos bemCom nossas becasNão estamos assim tão antiquadosÉ melhor mesmo não as tirarO preto é a cor de um triste lutoPela educação em lutaQue se assaltou no ParanáDesculpem pelo assunto,A luta ocupa também este lugarSempre solidários aos nossos professores,Permanecemos orgulhososMuitos permanecem a nos ensinar,Ainda nesses dias,Nos mostrando boas formas de lutarLutaremos, caras homenageadas,Se preciso ao seu ladoSe não somos mais alunos,Permanecemos aliadosComo poderia afinalSer de qualquer forma diferenteVocês, professores e funcionários,Construíram com seu trabalhoO lugar que permitiuO nosso caminharE agora nós, já formados,Com os pés ainda vermelhosDo chão desta cidadeSentimos, sim, o corpo prosseguirUma parte, porém, resistirEnchendo-se os olhosDa mais fina saudadeEssa fração de nós permaneceTeimosa, em simbioseSempre parte da universidadeEra Milton quem diziaTriste se faz a travessiaVamos seguindo pela vidaChegando deste outro ladoO sonho que se sonhavaDeixamos de sonhá-loComo diz a músicaPodemos, finalmente, agora dizer“Hoje faço com meu braço o meu viver”Por termos agora nos formadoJá fomos ficando acostumadosA receber parabénsDe nossos parentes, tios e tias“Quem diria”,Cansamos de ouvir,“Temos agora um advogado na família”.Mas, desculpem pelo mau jeito,É que o Curso de DireitoNão nos formou apenas para advocacia.Pois talvezO que mais sentiremos faltaSerão os corredores das salas de aulaOu olhar nos olhos de um funcionárioConversarDizer muito obrigadoNão foi uma só vezQue sem quererEm uma dessas conversas tímidasConhecemos novos caminhos de vidaProfessores e funcionários,Trabalhadores de nossa universidadeConhecê-los foi lição das mais belas.Esqueçamos os códigos, cadernos e vaidadesNão houve aprendizado que nos valhaSem conhecê-los, como pessoas de verdadeNão seria outroO principal motivoPelo qual lhes devemos agradecerAgora nos resta caminhar novos caminhosFindos os anosEm que caminhamos com vocêsNão podemos falar o nome de todosEntre professores e funcionáriosSeriam muitosE sinceramenteAlguns que conhecemosNão mereceriam ser citadosNossa homenagem, genérica,Vale, sim, para quem transformou nossas vidasNos ensinaram a sonharNos prepararam para conquistasLembramos, porém,Um Paulo Freire que já diziaNinguém pode educar o outroSem uma contrapartida:Aprender com seu educando.E transformar-se ensinandoSe o ato de educação é dialéticoTodos aprendendo com o lado reversoÉ nosso desejoQue, findo esse processo,Saindo dele transformados,Possamos ter-lhes renovadoO desejo pelo saber e pelo trabalho.Gostaríamos, professora Luciana,Que levasse aos departamentos,A todo o corpo docente que nesta noite representa,Nossas saudações, agradecimentosE para não dizer adeusEncerre-lhes uma saudação mais leveDiga que a turma João Pedro JuniorMandou-lhes um esperançoso “até breve”.A Verinha, por sua vez,Já em carinhoso diminutivo chamada,Pedimos que não se esqueçaQue por nossa turmaSempre será lembradaSerá, sempre, inesquecível homenageadaRepresentando centenas de servidores,Técnicos, faxineiros, zeladores,Todos os tipos de trabalhadores.Conhecemos poucos dessa gente toda,Mas qual trabalho que se fazSem a classe trabalhadora?Obrigado novamente,Por ter-nos apoiadoSe saímos transformadosA todos funcionáriosSaímos também eternamente gratosMais pessoalmente,Se não é muita ousadia,Pedimos:Não perca nunca sua bela simpatiaAssim como o nosso dia a diaAgradecemosPor tornar a festa,Sem dúvidas, mais bonitaCaras homenageadas,LeminskiO nosso velho poeta paranense,Em sua verdadeira poesiaAo contrário de nós,Em poucas palavras tudo resumiaCitaremos por derradeiro,Essa estrofe que simbolizaComo homenagem vividaOs nossos sinceros agradecimentosPor todos os anos passadosPor nos conheceremPor encerrarmos juntos transformados“Não fosse issoE era menosNão fosse tantoE era quase”“Não fosse issoE era menosNão fosse tantoE era quase”
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