sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Domingo na Praça do Jardim Igapó

Domingo na praça - Preparativos e o Dia D

Foi em uma reunião preparatória de atividades de início de semestre que a professora Érika passou uma tarefa muito simples, a princípio: coordenar o "caso da praça", para mim e Autieres. Pensamos que estava tudo tranquilo. Pois bem, pensamos errado. Não é à tôa que esse caso está conosco desde o início das atividades do Lutas. A propósito, tem sido o único caso que atuamos desde então. Foi aí que começamos a pensar que a tarefa não seria tão simples assim...
Pois bem, o caso consiste em uma praça na qual foram feitas reformas sem a consulta popular. Ocorre que essas reformas visavam ampliar a área de lazer já existente para os idosos do bairro - uma cancha de malha. Com a ampliação, mais uma foi construída, bem como mesinhas e uma quadra de areia. Com essa reforma, o conhecido espaço nobre da praça - antes destinado às crianças e suas mães por ser um local sombreado e longe da rua - foi comprometido. Por trás disso, descobrimos que havia maiores problemas: a ascenção da classe média no bairro e a expansão imobiliária, fatores esses que buscavam tomar o espaço como um todo a fim de retirar a população pobre, tradicional do bairro do local que lhes pertenciam outrora.
Para a realização da reforma, além da violação do direito das crianças e das mulheres, e da não realização de consultas populares, houve várias irregularidades quanto à reforma em si. Por outro lado, a reforma foi feita por uma imobiliária de um dos moradores do bairro em parceria com a prefeitura municipal.
Junto a todo esse cenário, em dois dias a escola que fica em frente a praça, com a ajuda de uma antiga moradora do local e mãe de uma aluna da escola, tentou fazer atividades na praça. Ocorre que um dos moradores, ao ver essa movimentação em plena reforma chamou a guarda municipal juntamente com a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanismo, a fim de acabar com a atividade. E foi justamente isso que ocorreu. Agentes municipais tiraram os materias da escola e da mãe da aluna e não permitiram a continuidade da atividade da praça. Isso certamente causou um grande temor em alunos e professores, o que os impediram de voltar novamente àquele local.
Enquanto tudo isso acontecia, essa moradora, mãe de uma das alunas da escola, tentava receber informações sobre a reforma e não conseguia. Foi aí que essa pessoa nos procurou para que tentássemos ajudá-la. As informações conseguimos, mas, o primordial, que seria o debate da cumunidade e questionamento das reformas não.
Essa mulher conseguiu que o Ministério Público do Paraná iniciasse um procedimento para apurar o caso. Após algumas reuniões com a participação dela, de alguns moradores novos favoráveis à mudança, alguns representantes da prefeitura municipal, e nós, alunos do projeto Lutas da UEL, foi deliberado que os órgãos da prefeitura deveriam fazer uma consulta a fim de saber se a população concordava com as alterações. A pesquisa foi feita e a população, em sua maioria, disse concordar. O Ministério Público entendeu por finalizado seu trabalho, mas nós não. Vimos que, além de uma falta de conhecimento da população acerca das violações de direitos, ela poderia não estar usando mais o bem público em questão - o que, a longuíssimo prazo, poderia gerar um problema maior: a desafetação de um bem público, por falta de uso para aquela determinada finalidade.
Dessa forma, pensamos em, primordialmente, fazer uma atividade na qual as pessoas pudessem voltar à praça. Então, começamos a discutir qual seria a melhor forma de fazer isso. Tivemos muita dificuldade. O nosso projeto, até então, só tinha realizado tarefas teóricas - discussão de textos e debates e, por essa razão, acredito que estávamos muito teóricos, principalmente eu e Autieres. Ao invés de planejarmos ações e já marcarmos uma data, resolvemos discutir um livro importantíssimo para nossa formação e sem o qual tínhamos receio de que as pessoas fizessem ações impositivas: A Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. As discussões não contaram com muitas pessoas, portanto, talvez pode-se dizer que foram ineficientes. Infelizmente.
No entanto, tivemos que lidar com muitos casos nos quais, sem a leitura paulofreireana, não saberíamos como resolver. O primeiro impasse foi a data da atividade. Havíamos escolhido uma perfeita para nós: longe de provas, feriados e tudo mais. Ocorre que, naquela data a comunidade não poderia, ficaria muito corrido para eles. Então, propusemos uma data na qual parecia tudo estar certo: dia 28/10.
No entanto, após as turbulentas eleições de Londrina, percebemos que a data escolhida era justamente o segundo turno para prefeito! Dessa forma, para a escolha da nova data adotamos uma nova estratégia: participar da festa do dia das crianças na praça, realizada pela própria comunidade, para que eles nos dessem a sugestão do dia bem como sugerissem atividades para fazer no dia.
Além disso, conseguimos definir que a atividade consistira em uma grande gincana voltada a família toda, juntamente com atividades paralelas, como ginástica para a terceira idade, pintura no rosto, feira de artesanato do grupo de artesãs da igreja, lanche coletivo ao final do evento e outras coisas que poderíamos conseguir na própria festa do dia das crianças.
Na festa, além de escolhermos a data para o dia 04/11, por sugestão da comunidade, conseguimos outras atividades para o dia do nosso evento, como cama-elástica gratuita e contação de histórias para crianças pequenas, pois naquele dia aconteceu isso e a contadora se comprometeu a nos ajudar na realização do evento.
Com a data definida, começamos com os preparativos em si. Definimos todas as atividades a serem feitas e seus responsáveis, com a ajuda da professora, que nos alertou à demora e dificuldade de colocar as coisas em prática.
Ao ir atrás da cama-elástica para o dia do evento a pessoa que iria nos emprestar já havia alugado para uma festa e disse para nós que, se quiséssemos, pagaríamos para uma outra amiga dela. A resposta, obviamente foi negativa pois nunca contamos com dinheiro em caixa.
Após isso, marcamos uma reunião com a comunidade, na qual cada pessoa nos ajudaria com as atividades. Além disso, no mesmo dia, marcamos uma reunião com as senhoras do grupo de artesanato do bairro, para definimos as questões da feira de artesanatos. Essas reuniões foram feitas na segunda-feira anterior ao evento do domingo. Ocorre que a reunião foi feita muito em cima da hora e as senhoras não teriam nada pronto para apresentar no dia. Foi então que sugeriram a data do dia 20/11 - feriado da consciência negra - para realizar as atividades. Assim, ficamos de pensar como seria e, posteriormente, darmos a resposta.
Ao chegar na reunião com os moradores tivemos uma grande decepção: só estavam presentes duas moradoras - aquela que sempre entrou em contato conosco e uma amiga. Devido a esse fato, elas também mostraram interesse em mudar o evento para o dia 20. No entanto, esse dia seria uma data inviável para nós: final de semestre! Assim, falamos a elas que não podíamos mudar a data mais uma vez e que ajudaríamos no que fosse preciso. Nessa reunião, cheia de estudantes e com poucos moradores, mostramos a elas nossas necessidades e a moradora com a qual temos contato se comprometeu com muitas coisas e nos indicou pessoas para falarmos sobre cada item que precisávamos.
Como definimos que o evento seria no dia 04/11 mesmo, ligamos para a líder do artesanato e lhes informamos que poderíamos ajudá-las dia 20, porém somente com a feira, sem qualquer outra atividade.
Dessa forma, durante aquela semana, nos encarregamos de buscar ajuda junto aos moradores e fazer a divulgação. O legal é que foi durante a divulgação que conseguimos algumas coisas faltantes. O som que não tínhamos conseguimos com um morador da vizinhança, a rede para o jogo de vôlei que havíamos planejado conseguimos com a escola estadual da região e a corda para o cabo-de-guerra conseguimos com um idoso jogador de malha. Aliás, com os jogadores de malha tentamos a todo tempo interagir, de forma que eles se sentissem parte da praça como um todo e pudessem convier tranquilamente com os demais. Com os idosos da malha conseguimos também alguns pasteis para o lanche comunitário.
Outro problema tivemos bem no dia anterior ao evento: a contatora de histórias disse que não poderia ir, pois havia assumido outro compromisso. Dessa forma, contávamos com uma atividade a menos.
Com tudo pronto, fomos ao grande dia! Marcamos de nos encontrar 10h na casa da moradora que sempre está em contato conosco para fazermos todos os preparativos durante a manhã e almoçarmos juntos.
De início, só havia chegado Autieres, Felipe, Luara e eu. Mesmo com o número reduzido, começamos a preparar as atividades e já "fazer barulho" na praça, para que as pessoas ficassem curiosas e vissem que lá estava acontecendo algo. Posteriormente, foram chegando as outras pessoas como Carol e Luiz Ernesto que também ajudaram nos preparativos e almoçaram conosco. Um dos trabalhos preparativos foi bem braçal e todos ajudaram: varrer a quadra de areia, para proporcionar um espaço às crianças. Até dois senhores da malha nos ajudaram!
Após isso, Guilherme e Luizão chegaram para preparar o som. O bom foi que eles já haviam almoçado e puderam cuidar disso enquanto o restante se alimentava. Lara, Erika e Cleo chegaram também e ajudaram, enquanto o almoço acontecia.
Vale lembrar que duas pessoas que se comprometeram em ajudar avisaram previamente que não iriam. Além disso, no dia, mais duas não compareceram. Isso nos deixou um pouco inseguros, mas, continuamos assim.
Foi nessas dificuldades que um talento novo surgiu: Luara! Como algumas atividades estavam sem a pessoa responsável, Luara, que deveria fazer somente a atividade de início e integração ficou com todo o restante, em questão de animação e contar pontos!
Interessante notar também que a gincana, antes voltada para a família toda, contou com a participação efetiva somente das crianças e a inclusão dos adultos em algumas atividades.
No dia, já percebi uma coisa: foi até bom as atividades como cama-elástica, feira de artesanatos e contação de histórias não darem certo, pois a praça já estava bem cheia com tudo o que havíamos preparado e não havia sequer uma criança parada!
Conforme as provas iam correndo, percebemos que os adultos ficaram cansados. Portanto, para animar, tive uma ideia brilhante: fazer entrevistas com eles pelo microfone. Ocorre que essa ideia não foi tão brilhante assim. Para começar, muitos adultos não queriam falar. Os que falaram, se vangloriaram e atribuíram a festa para si, o que nos deixou chateados, bem como a moradora que tanto nos ajudou.
Percebendo isso, parei de fazer entrevistas e fomos verificar se a ginástica para idosos iria começar, pois os alunos de educação física que fariam isso estavam aplicando uma prova para as crianças da gincana: o vôlei. A questão do vôlei também foi decidida em cima da hora, já que o responsável por ela era uma das pessoas que avisou que não iria mais participar.
Após isso, a ginástica foi feita e, juntamente com ela a atividade da pintura. Felipe, reponsável pela pintura, teve uma ideia muito boa: deixou os materiais que comprou para isso à disposição o tempo todo, o que distraiu bastante as crianças mais novas. Além desses materiais, conseguiu brinquedos que distraíram bem as crianças.
Após a pintura, a atividade estava chegando ao final. Uma das atividades pela qual fiquei responsável foi um fiasco total. As crianças já estavam cansadas e deu até briga. Portanto, decidimos ir direto para o lanche coletivo porque as pessoas não aguentaríam mais.
Outro fator que não tínhamos pensado também foi improvisado pela professora Erika e pela moradora: o prêmio da gincana. Elas fizeram uma vaquinha e pediram dinheiro para os adultos presentes para comprar vários picolés na sorveteria próxima e, assim foi feito.
Chegamos portanto ao final. Pensamos que seria um pouco mais organizado, mas não foi. Poucas pessoas levarm comida, conforme pedido. A maioria que tinha levado fazia parte do projeto. A pesar de o pessoal da malha pedir pastéis, foram poucos e acabaram rapidinho. O que salvou foram os picolés - que de prêmio da gincana não tinha nada. Quem mais "atacou" foram os adultos, que, se a professora Erika não visse, pegariam mais de três por vez.
Após o lanche, começamos a limpara a praça, mas a moradora que semrpe nos ajuda disse para deixarmos isso por conta da comunidade, que deveria aprender a cuidar do que é seu, e, assim foi feito.
Com esse evento aprendemos muito e esperamos que a gente esteja preparado para os próximos e a próxima atividade com esse bairro: um curso de formação para montar uma associação de moradores de bairro!


 Lara mostrando seus talentos na Pintura de Rosto!

Equipe Branca, contanto com a ajuda de Guilherme e Autieres! 

 Equipe Verde, ajudada por Caroliny e Felipe!

 A corrida do saco foi bem engraçada e as crianças adoraram!

 Peões sofisticados fazendo a alegria das crianças!

 Ginástica para deixar a mulherada animada!

Tarefa da pintura!


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Deíse Maito

5 comentários:

  1. Quem estiver curioso, tem algumas fotos na área fotos desse blog!!!!!!!!!!!

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  2. Legal, a Deíse conseguiu explicitar bem nossa jornada meio que "caminhando no escuro" nessa primeira ação. As dificuldades, as incertezas, as coisas que na última hora não davam certo, os improvisos, e acima de tudo a vontade de realizar uma integração saudável. Creio que aprendemos bastante com o Domingo na Praça, principalmente por ganhar uma noção inicial quanto ao gerenciamento de grupos potencialmente conflituosos em atividade conjunta, tendo em vista que o próximo passo planejado é assessorar a comunidade para a criação de sua associação de bairro.

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  3. Sim! essa ação foi fundamental para descobrirmos todas as nossas dificuldades em colocar em prática o que temos estudado! Ah, eu também adorei a forma sincera da Deíse se expressar. Ficou muito bom!!!!

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